A maioria das pessoas que vem a Torres o faz em busca de sol e mar. Esse é o tipo de turismo comum em destinos como o nosso. Muitos desses turistas, com o tempo, tornam-se veranistas e, eventualmente, até moradores.
O que poucos sabem é que, aos poucos, vão perdendo o interesse que inicialmente os trouxe para cá. Não, não estou dizendo nada sem fundamento, seja ele científico ou simplesmente perceptível. A verdade é que nós, moradores de Torres, com o ar do tempo, acabamos nos distanciando do mar e da praia. Pelo fato de vivermos em uma cidade litorânea, as pessoas de fora imaginam que estamos sempre na praia, aproveitando o mar quase todos os dias.
Minha esposa, quando chegou a Torres com os pais, ouviu de uma moradora que fazia pelo menos uns 14 anos que ela não ia à praia para tomar banho de mar. Grande parte da população, com o tempo, deixa de frequentar regularmente as praias e, consequentemente, de aproveitar os banhos de mar. Já comentei sobre isso em outras colunas: não é que as pessoas não queiram mais ir à praia, mas sim que a vida cotidiana e as prioridades locais acabam pesando mais.
Em uma pesquisa recente sobre o Plano de Mobilidade Urbana de Torres, a professora responsável ficou surpresa ao perceber que a palavra mais mencionada pelos entrevistados foi “rio”, e não “mar”. Aliás, a palavra “mar” não estava nem entre as três mais faladas; foi mencionada poucas vezes.
Isso revela que muita gente de fora não tem noção de que nós, moradores, não estamos aqui apenas para desfrutar da natureza à disposição; também trabalhamos e vivemos no local que muitos visitam apenas para lazer. Assim, é natural que, ao serem entrevistados, os trabalhadores daqui citem outras prioridades e dificuldades antes de mencionarem o mar.
É por isso que uma visão externa, de alguém que não está no cotidiano da cidade, pode perceber o que nós, imersos na rotina, deixamos de ver. Essa perspectiva de fora é essencial, pois ajuda a destacar aspectos que nos am despercebidos.
Você, que nasceu ou já vive em Torres há anos, lembra quantas vezes tomou banho de mar este ano? Quantas vezes foi à Guarita ou à Praia da Cal? ear pelo calçadão a pé ou de carro não vale! Falo de um banho de mar mesmo.
Essa reflexão é importante porque, para quem vive em Torres os 365 dias do ano, aspectos como calçadas transitáveis, ruas sem buracos, transporte público eficiente, estacionamento e ciclovias funcionais acabam sendo mais importantes do que o mar ou a praia.
Portanto, para você que chegou a Torres há pouco tempo ou que ainda tem o encantamento do mar, lembre-se: o mar pode ter sido o elemento que o trouxe até aqui, mas é o restante — a qualidade de vida e a infraestrutura — que o fará permanecer por mais tempo.
Foi o mar que o trouxe para Torres? Pense nisso!
